Psicocromia do porteiro de discoteca
O psico aparece neste título porque pretendo, com o documento, fazer uma breve análise dos poucos impulsos que raramente disparam entre os neurónios, também eles raros, dos inúmeros porteiros de discoteca deste país à beira mar plantado. O cromia quero que venha, e só neste texto, da palavra “cromo”, como uma representação de um desenho impresso a cores, a duas cores, diga-se, preto e branco. Juntando as duas palavras obtemos uma terceira e esta não desejo que dure mais do que este efémero papel: Psicocromia. O porteiro aparece como o objecto a analisar e a discoteca como o habitat onde o objecto analisado vive ou sobrevive.
Esgotei-me ao tentar entender estes senhores. Tentei perceber o extraordinário mecanismo que os leva a decidir sobre quem deve ou não entrar numa discoteca. Quase que desisti! Há ali um qualquer algoritmo de génio, um processamento demasiado rápido para que possa ser analisado por alguém sem a mínima preparação científica para o fazer. Mas que ciência poderia eu usar na aproximação às minhas cobaias? Que conjunto de conhecimentos baseados em princípios certos precisaria eu de reunir para que pudesse inferir novo conhecimento?
Digo-vos que até foi simples. Apenas necessitei de encher uns cartões de vodka. O resto consegui-o com a experiência e a experiência consegui-a com o resto. Porque já os analiso há algum tempo, atrevo-me a deixar-vos o conjunto de itens que compõem a minha singela teoria. Chamemos-lhe de o conjunto de medidas que facilitam os cérebros dos senhores porteiros a darem um impulso positivo.
Primeiro: Comprem um relógio grande e luzidio, este artefacto pode fazer a diferença quando tentarem entrar numa discoteca. Atenção! Se não levarem relógio não se esqueçam de dar aquele jeito ao pulso com a mão meia descaída para que pensem que existe algo por debaixo das mangas de um casaco que nem precisa de ser de peles. É limpinho! Até o mais atento dos porteiros se intimida com o gesto, chamemos-lhe, do relógio.
Segundo: Tragam alguma etiqueta na roupa. Não precisa de ser Benetton. Inventem, vá lá! Podem mandar bordar, por exemplo, Benuron - para não pagarem direitos de patente - numa camisola que não necessita de ser pura lá. Também já o fiz. Resulta! Eles olham de relance, começam a ler a etiqueta mas não a lêem até ao fim – é que arrancar um cartão e ler ao mesmo tempo torna-se difícil -. O importante é que soe a estrangeiro. Berbigão é também uma boa variante.
Terceiro: Mostrar segurança. A melhor estratégia é chegarem à porta da discoteca em diálogo aceso com o colega que vos acompanha. Digam qualquer coisa em francês ou em inglês, não precisa de fazer sentido, aliás, podem estar a falar, por exemplo, de uma receita para um cozinhado. Quando chegarem à parte em que querem dizer que o arroz tem que estar aguado, não o digam arroz em português. Aí tramam-se logo! Digam Rice, “The rice tem que estar aguado”. Certo? Têm logo um cartão a metade do consumo obrigatório nas mãos.
Quarto: Se tiverem o azar de chegarem sozinhos à porta não se deixem intimidar. É tudo uma questão psicológica. Vejamos… Imaginem, por exemplo, o porteiro de cócoras num qualquer consultório médico a fazer um check-up que também pode ser qualquer. Esta, sou incapaz de explicar, só sei que resulta… Ouvi dizer que cai nos meandros da telepatia.
Quinto: Se nenhuma das anteriores resultou, e se não têm uma loira por perto para se colarem, não desesperem. No momento em que o porteiro vos olhar nos olhos com aquela expressão de quem vos vai mandar passear façam aquela cara de espanto e digam: “Aceitam cartão de crédito?”. Ou, a versão mais in: “A casa aceita Master card?”. Atenção, esta só deve ser usada em último recurso. É que estes senhores só costumam trabalhar com dinheiro vivo.
Sexto: Boa sorte!
Para concluir esta minha teoria resta-me dizer-vos que ela é dirigida mais aos portões que aos porteiros. É que no meio da população porteiros, há sempre os que briosamente desempenham o seu trabalho e todos os outros. Esses outros, há quem rascunhe melhor do que isto que pintei.
Esgotei-me ao tentar entender estes senhores. Tentei perceber o extraordinário mecanismo que os leva a decidir sobre quem deve ou não entrar numa discoteca. Quase que desisti! Há ali um qualquer algoritmo de génio, um processamento demasiado rápido para que possa ser analisado por alguém sem a mínima preparação científica para o fazer. Mas que ciência poderia eu usar na aproximação às minhas cobaias? Que conjunto de conhecimentos baseados em princípios certos precisaria eu de reunir para que pudesse inferir novo conhecimento?
Digo-vos que até foi simples. Apenas necessitei de encher uns cartões de vodka. O resto consegui-o com a experiência e a experiência consegui-a com o resto. Porque já os analiso há algum tempo, atrevo-me a deixar-vos o conjunto de itens que compõem a minha singela teoria. Chamemos-lhe de o conjunto de medidas que facilitam os cérebros dos senhores porteiros a darem um impulso positivo.
Primeiro: Comprem um relógio grande e luzidio, este artefacto pode fazer a diferença quando tentarem entrar numa discoteca. Atenção! Se não levarem relógio não se esqueçam de dar aquele jeito ao pulso com a mão meia descaída para que pensem que existe algo por debaixo das mangas de um casaco que nem precisa de ser de peles. É limpinho! Até o mais atento dos porteiros se intimida com o gesto, chamemos-lhe, do relógio.
Segundo: Tragam alguma etiqueta na roupa. Não precisa de ser Benetton. Inventem, vá lá! Podem mandar bordar, por exemplo, Benuron - para não pagarem direitos de patente - numa camisola que não necessita de ser pura lá. Também já o fiz. Resulta! Eles olham de relance, começam a ler a etiqueta mas não a lêem até ao fim – é que arrancar um cartão e ler ao mesmo tempo torna-se difícil -. O importante é que soe a estrangeiro. Berbigão é também uma boa variante.
Terceiro: Mostrar segurança. A melhor estratégia é chegarem à porta da discoteca em diálogo aceso com o colega que vos acompanha. Digam qualquer coisa em francês ou em inglês, não precisa de fazer sentido, aliás, podem estar a falar, por exemplo, de uma receita para um cozinhado. Quando chegarem à parte em que querem dizer que o arroz tem que estar aguado, não o digam arroz em português. Aí tramam-se logo! Digam Rice, “The rice tem que estar aguado”. Certo? Têm logo um cartão a metade do consumo obrigatório nas mãos.
Quarto: Se tiverem o azar de chegarem sozinhos à porta não se deixem intimidar. É tudo uma questão psicológica. Vejamos… Imaginem, por exemplo, o porteiro de cócoras num qualquer consultório médico a fazer um check-up que também pode ser qualquer. Esta, sou incapaz de explicar, só sei que resulta… Ouvi dizer que cai nos meandros da telepatia.
Quinto: Se nenhuma das anteriores resultou, e se não têm uma loira por perto para se colarem, não desesperem. No momento em que o porteiro vos olhar nos olhos com aquela expressão de quem vos vai mandar passear façam aquela cara de espanto e digam: “Aceitam cartão de crédito?”. Ou, a versão mais in: “A casa aceita Master card?”. Atenção, esta só deve ser usada em último recurso. É que estes senhores só costumam trabalhar com dinheiro vivo.
Sexto: Boa sorte!
Para concluir esta minha teoria resta-me dizer-vos que ela é dirigida mais aos portões que aos porteiros. É que no meio da população porteiros, há sempre os que briosamente desempenham o seu trabalho e todos os outros. Esses outros, há quem rascunhe melhor do que isto que pintei.
1 Bocas:
Muito boa percepção da noite...é mesmo real.
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